Os assassinatos dos dois agentes da Polícia Civil lotados na Delegacia de Propriedade de Veículos e Cargas (Deprov) durante abordagem na noite de segunda-feira, dia 3, no km 114 da BR-101, na comunidade de Taborda, em Parnamirim, elevaram para quatro o número de policiais mortos no cumprimento do dever desde abril de 2010.
Emanuel AmaralBandidos tentaram fugir do local em caminhonete, após a troca de tiros com policiais civis
Jovanez de Oliveira Borges, 42 anos, e Antonio Pereira Pinto Neto, 48 anos, foram mortos ao participarem de uma investigação sobre o roubo da caminhonete S-10 cinza, placa NNZ-2923, de Tangará, depois rastreada por sinais de GPS e localizada próximo a um galpão situado uns 500 metros após o posto de combustível São José, no sentido de quem segue de São José do Mipibu para Parnamirim.
Por coincidência, ao chegarem em frente a área rural da empresa Village Real Agrobusiness, os dois agentes da Deprov viram os ocupantes de uma camionete cabine dupla branca, L200, modelo Triton, placa NIX-08475 de Picos (PI) em atitude suspeita, que ao pressentirem a presença da policia, saíram da rodovia federal para a marginal de areia, onde se esconderam atrás de um poste e de uma cerca, aproveitando a camuflagem do mato.
O delegado da Deprov, Frank Albuquerque, disse que pela cena do crime, os APCs Jovanez Borges e Antonio Pereira Neto foram alvejados a tiros de "armas longas" à queima-roupa e a uma distância de uns cinco metros: "Não deram chance de defesa".
A viatura em que se encontrava os dois APCs foi alvejada com nove tiros, oito dos quais atingiram a lateral direita do Meriva branco, placa MZR-6449 (ano 2003/2004), enquanto uma bala entrou pelo parabrisa dianteiro, quase rente ao capô e do lado do banco do passageiro, onde estaria sentado o policial Antonio Neto. O motorista do veículo seria o policial Jovanez Borges.
Na sequência, dois policiais de uma viatura da Polícia Civil de Parnamirim, que vinham atrás do Meriva, reagiram aos tiros disparados pelas quatro pessoas que tinham saído da Hilux, das quais três fugiram pela margem direita da BR-101, no sentido de quem volta para São José do Mipibu, e outro evadiu-se pelo lado direito da BR-101, no sentido de quem vai para Parnamirim.
Na troca de tiros com os policiais civis de Parnamirim, um dos bandidos foi alvejado e, de madrugada, a Polícia Civil o identificou como sendo Marcos Aurélio Amador Alves, o "Marcos Caçador", que fugiu dia 3 de agosto com mais oito presos da penitenciária estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta.
"Marcos Caçador" morreu depois de ser socorrido para um hospital, mas não se sabe se foi em decorrência de troca de tiros durante a caçada policial, ou se foi por causa de dois tiros disparados pelos dois policiais que vinham atrás da Meriva da Deprov e atingiram a parte inferior do parabrisa da Hilux pelo lado do passageiro.
Já no começo da tarde, o delegado geral da Polícia Civil, Fábio Rogério Silva, informava que tinha sido identificado um dos quatro membros da quadrilha: Clayton José Martins da Silva, natural de Caruaru (PE) e que há alguns anos tinha sido preso em Canguaretama com outros comparsas, portanto armas de grosso calibre e outros aparatos em atitude suspeita. Clayton Silva atua em assaltos a bancos e carros fortes nos estados da Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe.
O secretário adjunto da Defesa Social e Segurança Pública, Clidenor Cosme da Silva Júnior, informou que depois de identificado o morto "Marcos Caçador", a Policia chegou ao nome do segundo membro da quadrilha - "por alguma coisa deixada" - pelos quatro ocupantes da L200, que teriam assaltado, na tarde de anteontem, duas agências dos Correios, em Bom Jesus e Lagoa de Pedras.
Silva Júnior disse que os integrantes dessas quadrilhas sempre estão mudando de bando, "mas a gente sabe sabe geralmente com quem andam".
Sesed emite nota de pesar por morte de policiais civis
A Delegacia Especializada em Combate ao Crime Organizado (Deicor) vai investigar os homicídios dos policiais civis Jovanez de Oliveira Borges, morto na noite de anteontem e que era casado e deixou dois filhos (um menino de nove anos e uma menina de três), e de Antonio Pereira Pinto Neto, que morreu no começo da manhã de ontem depois de passar por cirurgia no Pronto-Socorro Clóvis Sarinho. Seded emitiu nota de pesar pelas mortes. Outro policial que morreu no cumprimento do dever foi José Luciano de Oliveira, que era diretor do Sindicado da Polícia Civil do Rio Grande do Norte (Sinpol) e foi morto a tiros na noite de 27 de abril de 2010, quando fazia uma "campana" pela Delegacia de Combate ao Narcotráfico (Denar) em Felipe Camarão. Em 11 de março do ano passado, o policial civil Sidney Alves Lucas morreu na porta de casa. O corpo de Jovanez Borges foi sepultado às 18 horas de ontem, no Cemitério Morada da Paz, em Emaús, Parnamirim, enquanto o corpo do policial Antonio Pereira Neto, que era irmão do coronel PM Wellington Alves, estava dando entrada na aposentadoria, será enterrado às 9 horas de hoje, no Cemitério Parque de Nova Descoberta. Os dois policiais mortos em serviço eram da 1ª classe dos quadros da Sesed.
Foragido de Alcaçuz entre os assassinos
Marcos Aurélio Amador integrou a quadrilha chefiada pelo falecido Valdetário Carneiro, que 4 de junho de 2002 participou do assalto a três agências bancárias de Macau, que resultou na morte do delegado da Polícia Civil do Rio Grande do Norte, Robson Luís Medeiros Lira, então com 42 anos.
"Marcos Caçador" teria deixado cair uma metralhadora 9 mm, de fabricação alemã, depois de alvejado por policiais civis de Parnamirim, além de um revólver 38 deixado pelos integrantes da quadrilha durante a ação policial da noite de anteontem. Quando ele foi encontrado, na madrugada, ainda estava de posse de um revólver 38 e um pente de bala de fuzil 566.
Já na época que ele participou do assalto em Macau, a quadrilha era formada por uns 15 bandidos, que assaltaram três agências bancárias, uma da Caixa Econômica Federal, uma do Banco do Nordeste e uma do Banco do Brasil, além de estabelecimentos comerciais. Robson Lira foi morto com um tiro na cabeça, ainda dentro do carro da Polícia.
A Associação dos Delegados de Polícia Civil (Adepol) emitiu uma nota de solidariedade aos familiares e amigos dos agentes Jovanês Oliveira e Antônio Neto, mortos durante uma ação policial em São José do Mipibu.
No documento, assinado pela delegada-presidente Ana Cláudia Saraiva, a Associação coloca parte da culpa da morte dos policiais no Governo do Estado, pontualmente pela omissão nas lutas por melhores condições de trabalho e por mais segurança para a Polícia Civil.
A Adepol ainda aponta a negligência do Estado em manter presos as pessoas condenadas por crimes, pois Marcos Amador era fugitivo do presídio de Alcaçuz, que "há anos vive uma realidade de superlotação sem que o estado tome as providências necessárias para a abertura de novas vagas no sistema prisional".
Em relação às críticas de que o helicóptero da segurança pública não participou das diligências para localizar os assaltantes, o secretário adjunto de Defesa Civil, Clidenor Silva Júnior, explicou que a aeronave estava em manutenção até o domingo, dia 2, mas depois voou para participar de uma operação da Força Nacional em Alagoas.
Silva Júnior explicou que o comandante da aeronave é cedido pela Força Nacional, com quem o Estado tem um convênio, "como contrapartida para quando precisar". Segundo ele, os dois pilotos do Rio Grande do Norte ainda não estão habilitados para o comando da aeronave, na qual atuam como co-pilotos.
FONTE: TRIBUNA DO NORTE